Desenhar: pensamento, expressão e linguagem
- RD PGEHA
- 3 de mai. de 2016
- 3 min de leitura
Palestrante: Evandro Carlos Nicolau
Texto elaborado por Gisele Asamuna
No seminário desta semana, intitulado "Desenhar: pensamento, expressão e linguagem", nosso colega doutorando, Evandro Nicolau, educador do MAC e professor de desenho, partilhou sua experiência de pesquisa do mestrado, com mesmo título, defendido em 2010.
Evandro nos contou sobre sua relação com o desenho, ainda na infância, e as dificuldades enfrentadas desde o ensino fundamental, uma vez que as escolas não estão preparadas para pensar a formação a partir dessa linguagem. Por conta própria foi habitando o território do desenho e, de modo informal, foi se apropriando dele, experimentando-o como modo de registro das aulas de geografia, história, biologia... Só não era muito afeito pela matemática, pois nessa época ninguém tinha lhe contado que o desenho era extraído dela.
A experiência como estudante rendeu indagações que acompanham Evandro até hoje, por exemplo: como escapar do estilo Modernista (do deixar fazer o que quiser) e do Acadêmico (que diz como se deve fazer)?
Evandro encontra interlocução sobre esse tema apenas na graduação, após sua "escolha radical" de cursar artes plásticas. Ele sabia que tal escolha implicaria dedicar-se ao ensino como modo de sobrevivência. Desde então, tem pensado e desenhado aulas, pesquisas e trabalhos na seguinte direção: afinal de contas, como se ensina a desenhar?
Como ensinar arte, ensinar desenho, ensinar o que não é privilegiado na educação formal? Como ensinar o desenho como uma linguagem em arte? Como revelar seu potencial de elaboração do simbólico? Escreve-se muito sobre o desenho, mas desenha-se pouco sobre a escrita, assim como sobre outros temas. Se o desenho é uma das linguagens mais antigas, por que é tão menosprezada? A própria escrita tem algo de desenho (formas das letras, formas de composição dos textos)!
O mestrado de Evandro teve como norte essas questões, e o desejo de que pudesse servir de ferramenta para professores, sobretudo de ensino fundamental e médio.
O autor vê desenho em tudo; tudo é ponto e linha sobre planos. Vê desenho em projetos arquitetônicos, no trajeto que faz da casa ao trabalho, nos mais simples objetos.
Sua apresentação contemplou alguns momentos da história do desenho, desde a Lenda de Butades, narrada por Plínio, o Velho, que marcaria o início dessa arte, passando pelas pinturas rupestres e os rituais propiciatórios, chegando aos projetos de objetos, mapas, design de móveis, desenhos de anatomia etc.
Apresentou, ainda, um importante aspecto: o desenho como o lugar do erro, o lugar da dúvida. A liberdade do esboço, do projeto que se pode refazer quantas vezes julgar necessário, sem maiores consequências. Outro aspecto relevante no desenho é sua relação com os materiais, sendo eles determinantes no que vai ser produzido. A variação do suporte (papel, pedra, tecido, madeira) e o uso de lápis, goiva, caneta, giz, carvão; tudo isso definirá as características do resultado.
Evandro encerrou seu seminário com inquietações que ainda o acompanham. Por exemplo, que referências de desenho tornam tão comuns falas como “Eu não sei desenhar”? Que modelos persistem em nosso imaginário? Desenhamos o que vemos (índios e negros eram retratados como brancos pelo colonizador europeu porque ele estava acostumado a fazer assim) ou vemos conforme desenhamos (o europeu não conseguia ver o índio com olhos de índio)?
No blog do autor é possível acessar a dissertação de mestrado apresentada no seminário e também o livro editado a partir da sua "antítese", chamado "A filosofia pelo desenho ou Um livro sem citações", publicado pela editora Com Arte em 2011. Aqui: evandronicolau.blogspot.com.br
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